FACE NO ESPELHO: REVEILLON À LA DALI
Face no Espelho...
Não
chores meu menino.
Ah! Tuas lágrimas me remetem
ao mar numa tarde fria, onde as ondas batiam suaves em meus pés. E o medo de
ver além-mar, no horizonte, a incerteza de que nem mesmo sei por que choras
assim.
Fico eu, cá, moribundo de
amor e da dor de ver rolarem lágrimas neste rosto menino. Fico triste em saber
que não serão as derradeiras lágrimas e que muitas ainda irão cair e não
poderei fazer nada para evitá-las.
Essas lágrimas que sei que
são difíceis de derrama-las no real são representadas aqui, neste “tu” que
desenharas.
Rosto fino, sobrancelhas sisudas,
lábios serrados. Não sabes o quanto choro por ti.
São lágrimas que molham um
sorriso bobo, de ver seu jeito desajeitado. De ver sua vontade de vida, sua
sede de descoberta.
No entanto, não sabes
quantos oceanos descobri, quantas terras novas avistei ao encontrar teu singelo
olhar. Que por vezes, me assusta, por ser uma interrogação e que às vezes me
desafia a encara-lo.
Por isso não suporto meu
amado menino-homem ver-te assim.
Dor de solidão, olhar
soturno...
Não chores!
E se, mesmo assim, chorares
eu estarei aqui; como um pergaminho a escrever tuas lágrimas e tentar
transforma-las em sorrisos. Em centésimos de alegrias. Em versos cantados, em
poemas, em epifanias.
Cada lágrima tua será um
arabesco em minhas poesias.
Darei nome a cada uma delas
e farei as mais belas canções e as mais laboriosas poesias.
Embalarei-te em meus braços
e esperarei que adormeça.
Cobrirei teu corpo desnudo e
cansado.
Beijarei tua fronte e irei
velar teu sono como uma sentinela que guarda um grande tesouro.
Acordar-te-ei com os mais
belos poemas extraídos dos teus sonhos e deixarei que Eros crie em mim um paraíso
que será ofertado a ti. Sanarei todos os Thanatos para que nenhum mal chegue
até ti.
Estarei eu cá, vigilante de
tuas lágrimas, para que todas possam ser inspirações de meus poemas, de minhas
cantigas e de minha vida.
E quando precisares sorrir,
compilarei todas as sublimadas lágrimas e as entregarei a ti com um símbolo de
meu amor vigilante.
Saibas que estarei sempre a
observar teus olhos: com lápis na mão, uma folha em branco e um coração
flamejante de emoção.
De quem te ama
gratuitamente.
Seu/sua: ...
DESENHO: Carlos Dias
CARTA: Chico Carneiro
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