domingo, 5 de janeiro de 2014

FACE NO ESPELHO: REVEILLON À LA DALI

 
 
Face no Espelho...
 
Não chores meu menino.
Ah! Tuas lágrimas me remetem ao mar numa tarde fria, onde as ondas batiam suaves em meus pés. E o medo de ver além-mar, no horizonte, a incerteza de que nem mesmo sei por que choras assim.
Fico eu, cá, moribundo de amor e da dor de ver rolarem lágrimas neste rosto menino. Fico triste em saber que não serão as derradeiras lágrimas e que muitas ainda irão cair e não poderei fazer nada para evitá-las.
Essas lágrimas que sei que são difíceis de derrama-las no real são representadas aqui, neste “tu” que desenharas.
Rosto fino, sobrancelhas sisudas, lábios serrados. Não sabes o quanto choro por ti.
São lágrimas que molham um sorriso bobo, de ver seu jeito desajeitado. De ver sua vontade de vida, sua sede de descoberta.
No entanto, não sabes quantos oceanos descobri, quantas terras novas avistei ao encontrar teu singelo olhar. Que por vezes, me assusta, por ser uma interrogação e que às vezes me desafia a encara-lo.
Por isso não suporto meu amado menino-homem ver-te assim.
Dor de solidão, olhar soturno...
Não chores!
E se, mesmo assim, chorares eu estarei aqui; como um pergaminho a escrever tuas lágrimas e tentar transforma-las em sorrisos. Em centésimos de alegrias. Em versos cantados, em poemas, em epifanias.
Cada lágrima tua será um arabesco em minhas poesias.
Darei nome a cada uma delas e farei as mais belas canções e as mais laboriosas poesias.
Embalarei-te em meus braços e esperarei que adormeça.
Cobrirei teu corpo desnudo e cansado.
Beijarei tua fronte e irei velar teu sono como uma sentinela que guarda um grande tesouro.
Acordar-te-ei com os mais belos poemas extraídos dos teus sonhos e deixarei que Eros crie em mim um paraíso que será ofertado a ti. Sanarei todos os Thanatos para que nenhum mal chegue até ti.
Estarei eu cá, vigilante de tuas lágrimas, para que todas possam ser inspirações de meus poemas, de minhas cantigas e de minha vida.
E quando precisares sorrir, compilarei todas as sublimadas lágrimas e as entregarei a ti com um símbolo de meu amor vigilante.
Saibas que estarei sempre a observar teus olhos: com lápis na mão, uma folha em branco e um coração flamejante de emoção.
 
De quem te ama gratuitamente.
Seu/sua: ...
  
DESENHO: Carlos Dias
 
CARTA: Chico Carneiro
 
 
 
 

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