quinta-feira, 24 de outubro de 2013

FAZENDO CULTURA


Nesta manhã quente de outubro surpreendi-me com acontecimentos que, talvez, fossem melhor não serem divulgados aqui. No entanto, me vejo na obrigação como um artista de expor uma famigerada conversa que travei com nosso gestor da cultura.
Proponho que, a todos que lerão esse texto, abandone por um segundo suas convicções políticas e religiosas, e tente enxergar a verdade que estão além dos fatos das coisas, das conversas ditas, das aparências, etc...
Entender a arte é um processo que somente os hominídeos são capazes de compreender, no entanto, o fazer artístico abarca facetas que estão muito aquém da humanidade. Fazer arte é conversar com o divino independente de quem seja o “santo”. Fazer arte é dialogar com o profano, pois esse se denota a nossa humanidade.
Fazer arte é escancarar a nossa essência sem fronteira e engajá-la de tal maneira a fazer das pessoas que apreciarão um instrumento de composição. É torna o sujeito que vive como coadjuvante em protagonista de sua história e fazer com que ele saia de sua condição de subalterno.
Poderia passar horas e horas, parágrafos e mais parágrafos escrevendo sobre o que é arte e sobre o que é o fazer artístico. Creio, no entanto, que seria redundante e obsoleto explicar tais coisas para um gesto da cultura que deve ter já, dentro de si, uma sensibilidade e predisposição a diversidade da cultura de um modo geral. O que de fato não foi percebido por mim e outras inúmeras pessoas que presenciaram o embate.
A cultura da “outro” é minha cultura também, no entanto, elas não devem se relacionar de maneira a sucumbir a cultura do mais fraco, do que vive na margem. Se assim o fosse, os verdadeiros fazedores da cultura brasileira deveriam está todos esquecidos, na sarjeta. Porém, percebemos na própria fala do nosso gestor que o caráter da recusa em ceder o local para a exposição do Projeto Coprofagia está atrelada a convicções religiosas e ao poderio político.
O projeto coprofagia é uma exposição em telas, com 30 obras e mais um painel gigante com imagens que irão inferir nos seus apreciadores as sensações mais cruas da nossa humanidade. Nossa arte é engajada e destemida. Falamos sobre três pilares que sustentam a nossa dogmática e estúpida sociedade: Religião, política e sexualidade – logo incomoda muito.
Vale ressaltar que o projeto não se abstém do seu caráter político, religioso e sexual. Temos todas essas facetas dentro do projeto. No entanto, compreenda caro gesto: ISSO É ARTE E NA ARTE EU POSSO FALAR DO QUE EU QUISER E COMO QUISER!
Arrumar desculpas baratas para impedir a exposição de um projeto que foi totalmente independente e financiado exclusivamente por mim não vai atravancar a exposição, ela irá acontecer quer você queira ou não. 
Sem contar que, nós solicitamos um espaço público, ou seja, que é meu também e que tenho todo o direito de expor minha arte lá!
QUEM QUER FAZER ARTE FAZ!
É caríssimos! O poder cega mesmo as pessoas. Elas acham que a ascensão dos cargos está acima da ascensão da alma. Um tanto quanto paradoxal, posto que, uma das justificativas para a recusa do local é que a exposição irá ferir o brio político e religioso do gestor em questão.
Que absurdo!
Eu respondo por mim e por todas as obras feitas, ele como gestor deveria apenas aceitá-las e fomentá-las. No entanto, ele cerceou-as.
Isso é ultrajante!
Nunca tinha visto, em toda minha vida, tanta insensibilidade reunida numa pessoa só.
O mais incrível disso tudo é que ele ocupa uma pasta importantíssima dentro da nossa prefeitura, no entanto, interesses pessoais sempre vencem quando se fala do interesse coletivo.
Uma das falas dele foi: TUDO QUE É FEITO DENTRO DO ICÓ TEM CONSEQUENCIAS POLÍTICAS E RELIGIOSAS!
Estamos numa ditadura disfarçada, diria melhor numa democracia na qual sua carta magna é o dinheiro.
ABUTRES, CARCARÁS!
Quem me conhece e conhece minha arte sabe da qualidade que elas têm. Não por presunção e sem falsa modéstia. Eu sou um bom artista.
MEU CARO: A GENTE NÃO QUE SÓ COMIDA, A GENTE QUER ARTE!
Nossa cidade tem fome, tem muita fome.
No entanto, são esse miseráveis esfomeados que enchem as urnas de votos. A arte liberta, a arte assusta os corruptíveis em todas as vertentes de corrupção, seja na política, na religião, nas ideologias ou mesmo no caráter.
Interessam-lhes muito mais uma cambada de manipuláveis do que uma legião de pensantes.
Quem pensa por si mesmo é livre e ser livre é coisa muito séria, já dizia Renato Russo!
Peço a todos que lerem esse texto que não permitam ser escravizados pelas falácias, vejam além disso. Saiam de seus casulos cômodos e enfrente o mundo. 
Não irei parar nunca de produzir e produzirei cada vez mais uma arte que grita nos ouvidos dessa cambada de covardes, uma arte que se esperneia, que vai contra corrente, destemida, mas acima de tudo: VERDADEIRA!
A exposição irá acontecer. 
Logo, logo darei uma data e local.
Aguardem!

Autor do projeto: Chico Carneiro. 
Coautor: Carlos Dias

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